Lívia SantanaEsportes

Projetos sociais influenciam na igualdade de gênero nos esportes

Mapa das Organizações da Sociedade Civil indica que mais de 22 mil entidades promovem programas voltados a meninas e mulheres em todo o país

O esporte feminino foi o grande destaque da última edição dos Jogos Olímpicos. Em 2024, 50% dos atletas foram mulheres, totalizando 5.250, o maior número de esportistas femininas na história. Essa também foi a primeira vez que as mulheres foram maioria na delegação brasileira (55%). Além disso, todas as medalhas de ouro foram conquistadas por elas. Mas isso não é coincidência e possui raízes na atuação de projetos sociais.

De acordo com Gigi Favacho, gerente da Rede CT – Capacitação e Transformação – rede de desenvolvimento de empreendedores sociais esportivos para uso de leis de incentivo, esses números estão deixando de ser um fenômeno isolado e passando a ser a nova tendência, muito por conta da reação em cadeia gerada pela ação de organizações na base da sociedade.

Segundo ela, “é um conjunto de ações que causam um efeito em cadeia até chegar na representatividade em olimpíadas ou impactando em números no esporte de alto desempenho no geral. Porque é na educação de base e no exercício da micropolítica que vemos o tecido social se alterando, se moldando para novas formas de comportamento. Uma menina em um projeto social passa por uma transformação devido ao impacto da educação, informação, do trato e respeito pela diversidade”.

Conforme pesquisa do Mapa das Organizações da Sociedade Civil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até novembro de 2020 mais de 22 mil ONGs de todo o país tinham atividades potencialmente voltadas a meninas e mulheres. “Isso tem o efeito de mudar a cabeça das pessoas e o comportamento das crianças, seja dentro de casa ou no futuro trabalho delas. Transformam suas perspectivas de vida. Essa reação em cadeia que causará uma transformação para vermos esses números em Jogos Olímpicos, por exemplo”, comenta Gigi.

Inclusão na prática

Para Natali Coimbra, da ONG Eu Acredito, de Sergipe, os projetos promovidos pelas OSCs trazem muito mais do que resultados nas competições esportivas. “Nosso trabalho vai além disso, até porque o principal foco não é desenvolver atletas de alto rendimento, mas assegurar que essas meninas e mulheres tenham bem-estar, qualidade de vida, educação, saúde, proteção e oportunidades”, diz.

A entidade, que promove o futebol feminino e masculino de base, desde crianças até o sub-17, foi uma das mais de 300 que participaram do programa de capacitação promovido pela Rede CT para aprenderem a ter acesso aos benefícios da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. “Sem dúvida, esse aprendizado foi essencial para continuarmos realizando nossas atividades e ampliarmos o alcance das nossas ações a fim de beneficiar cada vez mais meninas, mulheres e todos que precisam tanto de apoio”, ressalta. “Esperamos que mais instituições tenham também os mesmos acessos, pois é notável o quanto isso pode transformar vidas”, acrescenta Natali.

Projetos sociais focados em esportes tornam a sociedade mais plural

Além disso, outros projetos também proporcionam que outras minorias sociais tenham essas mesmas chances. Por exemplo, a AMAS LGBTQIA+, de Pernambuco, entidade que atua promovendo eventos dos mais variados tipos com o discurso da inclusão e o respeito pelas pessoas da comunidade LGBTQIA+, como mutirões de retificação de nome e gênero da certidão de nascimento para pessoas trans.

Hewrya Maia, representante da organização, avalia que “fazemos parte de um sistema que exclui. A nossa função é quebrar com esse paradigma e dar voz e lugar a todos que querem, seja pelo esporte, educação, lazer, o que for. Todos merecem esse acesso e nós, enquanto ONGs, temos o dever de fazer acontecer. É por isso que precisamos contar com recursos que vão ajudar a colocar em prática as ações que sabemos que a sociedade precisa”.

Sobre a Rede CT

A Rede CT – Capacitação e Transformação, é um projeto que, com apoio do Instituto Futebol de Rua, Nexo Investimento Social e Rede Igapó, e patrocínio do Itaú, capacita empreendedores sociais esportivos para uso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Com a expectativa de capacitar 300 OSCs e mentorear outras 120, a Rede CT visa capacitar representantes dessas organizações para auxiliar em programas de apoio à prática esportiva como agente de transformação social nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, com foco em cidades no interior dos estados e pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

***O texto acima é de inteira responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal S4.

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