Eventos Culturais

Grupo Corpo apresenta “Gil Refazendo” e “Breu” no Teatro Multiplan

Grupo Corpo chega ao Rio de Janeiro – Teatro Multiplan, no Village Mall -, para cinco apresentações trazendo Gil Refazendo (2022), com trilha de Gilberto Gil, e Breu (2007), música de Lenine, num contraste entre a solar criação do baiano e a densa música do pernambucano, traduzidas na coreografia de Rodrigo Pederneiras

  • de 17 a 21 de maio –

Quase como o dia e a noite: a temporada 2023/1° semestre do Grupo Corpo vai trazer duas criações opostas em sua paleta e na densidade. O solar Gil Refazendo, de 2022, abre as noites com a costura luminosa e sensual das canções de Gilberto Gil. Na segunda parte, o negro toma conta do palco para a fascinante, angulosa e percutida Breu, de Lenine, uma das coreografias que há mais tempo não é vista pelo público brasileiro – foi dançada no país somente em 2007 e 2008.
A miniturnê passa logo antes pelo Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, chega ao Rio para apresentações no Teatro Multiplan, do Village Mall, Barra da Tijuca, de 17 a 21 de maio. O Grupo Corpo tem o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e o patrocínio do Itaú através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
“Gil Refazendo é a mais recente criação do Grupo – um balé que refizemos, justamente, pela primeira vez em nossos 48 anos, para que ficasse exatamente como gostaríamos”, afirma o diretor artístico Paulo Pederneiras. “Foi uma decisão corajosa, a de recriar do zero – mantendo a mesma trilha – e pode ser vista como uma metáfora da necessidade de se refazer tantas coisas importantes destruídas nos últimos anos”.
Ele fala também da escolha de Breu neste programa, ressaltando que a grande maioria dos bailarinos nunca a levou ao palco. “É uma das obras mais fortes do repertório do Corpo, uma trilha extraordinária criada por Lenine”, continua Paulo. “Há muito queríamos remontá-la; foi escolha unânime por parte da companhia, hoje com bailarinos que nunca dançaram essa obra. Fora isso, Breu fala da violência que veio se intensificando nos últimos anos. E mais: exige muito preparo físico e técnico dos bailarinos e, portanto, bastante tempo e fôlego para chegar na excelência da sua execução”.

Gil – Refazendo
A trilha, especialmente criada por um dos papas da música popular brasileira, Gilberto Gil, chegou às mãos de Paulo e Rodrigo Pederneiras em 2019, quando o baiano completou 80 anos. E ganhou sua primeira tradução cênica – Gil. Ano passado, a música voltou ao palco em uma nova encarnação, no espírito de renovar, reconstruir, rever, reviver. Refazer. “Não é somente uma nova coreografia: é um novo espetáculo”, vai mais longe o diretor artístico da companhia, Paulo Pederneiras. O nome ganhou o aposto: Gil Refazendo. Assim como a música de Gilberto Gil, que se ergue na releitura de temas do compositor baiano que o Brasil conhece de cor, o balé foi reconstruído. Inteiro.
Além da oportunidade de homenagear Gil nos seus 80 anos, em 2022, a decisão de partir do zero foi reforçada pela transformação radical que o mundo viveu nesse período – e o Brasil em particular. “Embarcamos na ideia de um renascimento, de um refazer, replantar, reconstruir”, continua Paulo. “Gilberto Gil, com sua metafísica, suas ideias e a fundamental militância em prol do meio-ambiente se tornou uma perfeita tradução da necessidade de reconstruirmos o que foi arrasado, pôr de pé novamente o que desandou”.
A trilha é “como um rio caudaloso, de correnteza forte”, avalia o coreógrafo Rodrigo Pederneiras. “Entrei nessa dinâmica, com grupos grandes em cena, em vez da prevalência de duos e trios. E não há chão – é uma energia que sobe”. Mesmo no final, em que a música foge do habitual encaminhamento para um ápice e opta por um ralentando, a força dos movimentos “puxa para o alto”, descreve Rodrigo. Uma única e deliciosa exceção permaneceu na coreografia renovada: o samba da Mari – solo da bailarina Mariana do Rosário na releitura de Aquele Abraço.
A cenografia se apoia numa imagem de fundo em milimétrico movimento. “São imagens em zoom de girassóis que lentamente voltam à vida”, conta Paulo Pederneiras. “Gravamos por 15 dias ininterruptos a transformação das flores vivas em plantas murchas, encerradas num local fechado; na projeção do palco, invertemos o processo. O público acompanha, a princípio sem perceber e no final de maneira explícita, a vida que retorna”. Vestidos de linho em tom cru – moças de camisa sobre uma malha de duas peças, rapazes de calça e camisa de corte casual – os bailarinos dançam sob a luz “branca e simples”, diz Paulo.
Aquele Abraço, Realce, Tempo Rei, Andar com Fé, Toda Menina Baiana, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Raça Humana: na trilha de 38 minutos, surgem frases e temas de canções de Gilberto Gil – retrabalhadas, mas perfeitamente reconhecíveis nas suas variações. O arco traz quatro temáticas, ou quatro ambientes musicais, na definição do próprio compositor: um choro instrumental; uma abordagem camerística (com inspiração “em Brahms ou Satie”, aponta ele); um terceiro momento de liberdade improvisadora e, finalmente, uma construção abstrata baseada em figuras geométricas. “Círculo, triângulo, retângulo, pentágono, a volta ao círculo e finalmente a dissolução numa linha reta”, explica Gilberto Gil.
Nos arranjos, se alternam os tambores ancestrais e as distorções do aparato eletrônico; o afoxé e o naipe de sopros de pegada jazzística; a modinha e o berimbau. As citações bailam entre si, entrecruzando-se e dialogando enquanto o arco da trilha avança. “O fechamento da trilha traz ainda um poema concreto recitado por Gil, onde as cinco letras de CORPO se desdobram em CRAVO, CEDRO, FLORA, PALCO, PERNA, BRAÇO, PEDRA. “Ouvindo o resultado final, percebo que há muitos elementos da minha dimensão rítmica mesmo, elementos da Bahia, da música afrobaiana”, conclui o compositor.

Breu

Tradução poética da violência e da barbárie dos dias que vivemos, Breu, balé que o Grupo Corpo estreou em 2007, é uma demolidora partitura de movimentos escrita por Rodrigo Pederneiras. Para expressar em movimentos a densa e lancinante trilha sonora criada por Lenine, coreógrafo e bailarinos abriram mão da sensualidade, do lirismo, da alegria e da brejeirice que vinham caracterizando o trabalho do grupo.
Neste balé, a potência, a angulosidade e a rispidez dão o tom do balé. A brusquidão das quedas e a penosa morosidade nas subidas parece reter os corpos por mais tempo ao chão. Os bailarinos se movem com o auxílio da pélvis, dos pulsos, dos cotovelos, dos joelhos, dos tornozelos, dos calcanhares. Para manter-se de pé ou ficar por cima, é preciso ignorar o outro e encará-lo como inimigo, numa metáfora do individualismo, do triunfo a qualquer preço. A disposição para o confronto como estratégia de sobrevivência parece reger a movimentação dos bailarinos nos 40 minutos de espetáculo.
A música original de Lenine combina uma gama de timbres e estilos, com samplers e efeitos, na construção de uma instigante babel sonora numa peça única. Os oito movimentos vão do hard rock aos gêneros populares brasileiros.
Paulo Pederneiras emoldura o espaço cênico – já uma caixa preta por definição – com grandes placas negras e brilhantes, dispostas lado a lado com precisão geométrica, remetendo à frieza das superfícies azulejadas. De malhas inteiriças, todo em preto e branco, o figurino criado por Freusa Zechmeister divide ao meio o corpo dos bailarinos: na frente, têm preponderância as estampas geométricas variadas; as costas ganham, de alto a baixo, um negro intenso e brilhante. Sob a luz, o brilho das malhas ressalta as saliências e concavidades dos corpos. Ao mesmo tempo, aqui e ali e por frações de segundo, os bailarinos se fundem ao cenário, emprestando volume e sinuosidade à sua estética retilínea e bidimensional.

LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA
Patrocínio master: INSTITUTO CULTURAL VALE
Patrocínio: ITAÚ
Realização: MINISTÉRIO DA CULTURA, GOVERNO FEDERAL

Gil Refazendo e Breu
De 17 a 21 de maio de 2023
Quarta a sábado, às 20h30. Domingo, às 19h.

TEATRO MULTIPLAN – VILLAGE MALL
(Avenida das Américas, 3.900 – Barra da Tijuca)
Tel: (21) 3030-9970
Ingressos:
Plateia VIP: R$ 280,00 (inteira); R$ 140,00 (meia)
Plateia: R$ 250,00 (inteira); R$ 125,00 (meia)
Plateia Superior, Frisas e Camarote Inferior: R$ 40,00 (inteira) – R$ 20,00 (meia)
Bilheteria do teatro [sem taxa]: terça a domingo das 13h às 21h
Online [com taxa]: sympla.com.br

***O texto acima é de inteira responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal S4.

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