O Impacto da redução dos prazos de exibição nas salas de Cinema e Plataformas de Streaming na Indústria Cinematográfica
Desafios e Perspectivas para a Indústria Cinematográfica Brasileira
O universo do cinema está passando por transformações significativas na era digital, e uma das mudanças mais impactantes tem sido o encurtamento do prazo entre a exibição nas salas de cinema e a disponibilização em plataformas de streaming. O debate em torno desse tema ganhou destaque nos últimos anos, à medida que as gigantes do streaming, como a Netflix, Amazon Prime Video e Disney+, revolucionaram a forma como consumimos conteúdo audiovisual.
No Brasil, a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (ABRAPLEX) tem defendido a implementação de uma regulamentação que estabeleça prazos específicos para a disponibilidade de filmes em diferentes plataformas, a fim de proteger a indústria cinematográfica do país.
Streaming x A importância do prazo de exibição
O prazo entre a estreia de um filme nas salas de cinema e sua disponibilidade em serviços de streaming desempenha um papel fundamental na economia da indústria cinematográfica. Historicamente, esse período era de 120 dias, permitindo que os cinemas tivessem um período exclusivo para exibição dos filmes, atraindo o público para as telonas.
No entanto, a ascensão das plataformas de streaming e sua busca por conteúdo exclusivo têm levado a uma redução desse prazo. “Acordos entre exibidores e distribuidores estabeleceram para o Brasil um prazo de 45 dias. Os filmes que têm um prazo menor não têm sido exibidos nos cinemas, independente de serem nacionais e estrangeiros. Basta ver, os filmes distribuídos pela Netflix”, explica Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (ABRAPLEX).
Isso levou a uma crescente preocupação entre os exibidores e produtores de cinema, que argumentam que essa prática prejudica as bilheteiras das salas de cinema e, consequentemente, a indústria como um todo.
Experiências internacionais
Países europeus como Alemanha, Itália e França estabeleceram legislações específicas para regulamentar os prazos de exibição. Na Alemanha e na Itália, a lei determina um período de 90 dias entre o lançamento nos cinemas e a disponibilidade em outras plataformas. Na França, esse prazo é ainda mais longo, estendendo-se a 36 meses.
Essas regulamentações visam proteger as salas de cinema e garantir que elas continuem sendo um ambiente atrativo para o público, proporcionando uma experiência única de assistir a filmes na tela grande. Esses países reconhecem a importância de manter um equilíbrio entre as diferentes formas de distribuição de filmes, preservando o valor das salas de cinema.
Desafios da indústria Cinematográfica Brasileira
No Brasil, a situação da indústria cinematográfica não é diferente da de outros países. A pandemia de COVID-19 causou um impacto significativo, resultando em uma queda acentuada no número de lançamentos e na frequência de público nas salas de cinema. De acordo com a ABRAPLEX, o setor ainda enfrenta um déficit de 35% no número de lançamentos e uma redução de 40% no público em relação ao cenário pré-pandemia.
Além disso, a greve de roteiristas e atores em Hollywood tem afetado a produção de filmes e a disponibilidade de conteúdo internacional, o que agrava a situação da indústria brasileira. Diante desse cenário, os exibidores contavam com lançamentos estratégicos, como o filme “Ângela”, para impulsionar as bilheteiras. No entanto, o encurtamento do prazo de exibição em serviços de streaming dificulta a recuperação econômica das salas de cinema.
O caso do filme “Ângela”
O longa-metragem “Ângela” tornou-se um exemplo emblemático das tensões entre os produtores e os exibidores de cinema no Brasil. Com apenas 30 dias entre sua exibição nas telonas e a disponibilização em serviços de streaming, diversos exibidores decidiram não exibir o filme, alegando que isso violava acordos previamente estabelecidos.
Marcos Barros, presidente da ABRAPLEX, destacou a importância do filme “Ângela” como um potencial sucesso de bilheteria, enfatizando que os exibidores não têm como substituir uma produção com um potencial semelhante, especialmente quando a divulgação ocorreu apenas uma semana antes da data de lançamento.
“Os exibidores contavam com este filme (Ângela) como um forte elemento de bilheterias, não tendo, inclusive, como suprir uma produção de igual potencial diante da comunicação efetivada apenas há uma semana da data prevista para lançamento”, frisa Marcos.
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A necessidade de regulamentação
As associações ligadas aos exibidores cinematográficos têm chamado a atenção do Ministério da Cultura (Minc) e dos legisladores, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, para a necessidade de estabelecer um prazo definido em lei, semelhante ao de outros países, a fim de proteger a exibição cinematográfica nas salas de cinema. A ausência de uma legislação protetiva representa um risco significativo para a sobrevivência das salas de cinema no Brasil.
A regulamentação poderia estabelecer prazos mínimos para a disponibilidade de filmes em serviços de streaming após sua estreia nos cinemas, garantindo um período de exclusividade para as salas de cinema. Isso permitiria que os exibidores planejassem suas programações com mais segurança e atraíssem o público de volta às salas escuras, revitalizando a indústria cinematográfica brasileira.
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