A Vida das Bonecas Vivas, de Dan Nakagawa, tem sessões grátis no SESI São José dos Campos
Inspirado nas Living Dolls, o espetáculo de dança-teatro traz uma leitura contemporânea do butô e kabuki, tendo Helena Ignez como atriz convidada.
O espetáculo de dança-teatro A Vida das Bonecas Vivas, concebido e dirigido por Dan Nakagawa, faz duas apresentações no Teatro do SESI São José dos Campos, nos dias 23 e 24 de agosto de 2023, quartas e quinta-feira, às 20 horas. Os ingressos são gratuitos e devem ser reservados no site do SESI.
Com estética recheada de referências do butô, do kabuki e da dança contemporânea, A Vida das Bonecas Vivas parte do movimento das Living Dolls para tratar de existências humanas à margem de uma sociedade que cerceia a diversidade e a subjetividade. A encenação surge como uma resposta-celebração para uma existência possível no mundo patriarcal e embranquecido.
A ficha técnica tem Helena Ignez como atriz convidada (participação gravada em vídeo), Bogdan Szyberde (polonês, radicado na Suécia) na provocação cênica, Lucas Vanatt como dramaturgista e Der Gouvêa na coreografia, que também integra o elenco junto com Alef Barros, Gui Tsuji, Ricke Hadachi e Vivian Petri.
A Vida das Bonecas Vivas é inspirado na comunidade global Living Dolls, na qual homens se vestem com máscaras, roupas de silicone e seios protéticos a fim de se transformarem em bonecas vivas. Surgido nos anos 80, atualmente o movimento tem mais adeptos na Alemanha, Reino Unido e EUA. A montagem investiga questões existenciais, de identidade, filosóficas e artísticas na construção psíquica da personalidade em busca de um duplo como forma de transcender a própria existência. E, pelas sutilezas, tensões cênicas e subjetivas, revela a maneira como a instauração dessa nova persona afeta a identidade e, por consequência, a dança do corpo transformado.
Em um lugar atemporal, o enredo fala de pessoas que precisam existir de forma oculta. Borrando as fronteiras entre dança, teatro e performance, Dan Nakagawa traz para o espetáculo a mesma desconstrução do olhar normatizante em relação à sexualidade, gênero, expressão artística e, principalmente, ao modo a expandir e discutir as novas formas de existência que estão além dos padrões estabelecidos. A encenação ocorre em um ambiente que imprime a ideia de sonho. Os atores-bailarinos-performers são envolvidos por atmosferas lúdicas nas quais a cor branca sugere o infinito. O figurino remete à vestimenta plastificada da cultura living dolls, trazendo uma mobilidade contida para os corpos e, ao mesmo tempo, conferindo-lhes uma estética ora lírica, ora grotesca e ora bufônica. A trilha sonora também é criação de Nakagawa para o diálogo direto com as coreografias.
O encenador afirma que o espetáculo faz uma incursão nesse universo, partindo da pesquisa dos movimentos e das gestualidades desses homens em seus trajes de borracha, como uma “segunda pele”, fisicamente restritivos, mas libertadores ao possibilitar uma nova persona. O diretor conta que buscou elementos em sua ancestralidade oriental para construir a estética das cenas. “Fui buscar caminhos na expressão e intensidade do butô, no qual o ‘estado’ de dança passa pela necessidade da morte para o renascimento, e visitei o kabuki, com sua dramaticidade fluida em canto, dança e expressiva maquiagem, para chegar com liberdade a um conceito mais pop, mais contemporâneo, nesse híbrido de dança e teatro, onde movimentos e sons geram os estados físicos no performer”, afirma Dan, e explica ainda que o texto é coreografado, que a palavra é resultado do estado físico desses performesrs em cena.
Segundo o diretor, as personagens de A Vida das Bonecas Vivas vão ao encontro de sua sombra, de seu duplo, tendo por base conceitos da psicanálise como o ‘estranho-familiar’, de Sigmund Freud, o ‘nosso outro no espelho’, de Jacques Lacan, o ‘retornar a si pela experiência do outro’, de Antonin Artaud. Ele conta que usou também como referência os trabalhos do dramaturgo e coreógrafo grego Dimitris Papaioannou, da companhia de dança Cena 11 e do performer e coreógrafo japonês Hiroaki Umeda para trazer à tona perspectivas de um renascimento identitário que transponha os limites do engessamento social e dos papéis desempenhados diariamente.
A Vida das Bonecas Vivas teve sua pré-estreia em apresentação remota pelo YouTube, no dia 19 de novembro de 2020, devido às restrições impostas pela pandemia, permanecendo online por três meses, até 05 de março de 2021. Em 2023, a montagem circula por unidades do SESI São Paulo, já tendo passado por Ribeirão Preto (julho) e, em setembro, segue para Campinas.
Dan Nakagawa & o projeto
O primeiro contato de Dan Nakagawa com o tema (living dolls) foi por meio do documentário O Segredo das Bonecas Vivas. “Fiquei fascinado, intrigado com aqueles homens de meia idade e seus hábitos secretos de se vestirem de bonecas com um vestuário de látex, exclusivamente confeccionado para esse movimento. Eles, geralmente, ficam em casa, em suas vidas ordinárias, cada um em sua relação com seu avatar-boneca e, com suas máscaras, transcendem o quê são, para além de suas existências. Isto é arte: anular-se para descobrir outra persona”, revela.
As motivações para esse projeto vêm de uma contínua pesquisa por Dan já no seu primeiro espetáculo Não Ia ser Bonito?, no qual explorou questões existenciais em torno do conceito de realidade e memória. E seguiu em Normalopatas, que questionava um sintoma coletivo de normalidade e normatização, bem como em seu recente trabalho, O Aniversário de Jean Lucca,inspirado na linguagem coreográfica do teatro kabuki e no conceito “lógica do condomínio”, uma analogia do psicanalista Christian Dunker.
Desde 2017, o diretor vem desenvolvendo trabalhos em Estocolmo, Suécia, estreitando as trocas culturais entre a sua arte provocadora e brasileira com o teatro e a dança suecos. Por duas vezes consecutivas, foi convidado a lecionar teatro e performance na Stockholm Academy Of Dramatic Arts, em 2017, mesmo ano em que colaborou como diretor na montagem da peça Tjuvar, de Dea Loher, com direção de Ulrika Malmgren. Em 2018, dirigiu a leitura dramática de O Aniversário de Jean Lucca, de sua autoria, com atores e bailarinos suecos e, no ano seguinte, dirigiu no MDT – Moderna Dansteatern (Teatro de Dança Moderna de Estocolmo) a performance de dança-teatro Wonderful Days – A Work In Progress com artistas da Suécia, Brasil e Inglaterra.
Ficha técnica | Serviço
FICHA TÉCNICA – Direção e dramaturgia: Dan Nakagawa. Provocação cênica: Bogdan Szyber. Dramaturgista e diretor assistente: Lucas Vanatt. Atriz convidada (vídeo-gravação): Helena Ignez. Elenco – atores bailarinos e atriz bailarina: Alef Barros, Der Gouvêa, Gui Tsuji, Ricke Hadachi e Vivian Petri. Trilha sonora: Dan Nakagawa. Coreografia e preparação corporal: Der Gouvêa. Figurino: Alex Leandro de Souza. Cenografia, adereços, máscaras e contrarregragem: Rafaela dos Santos. Vozes: Gabriel Shimoda, Laércio Motta, Vivian Valente Petri, Alef Barros, Helena Ignez, Vivian Valente e Der Gouvêa.
Sonoplastia: Lucas F. Paiva. Operação de som: Fellipe Rodrigues Neves Oliveira e Guilherme Ferreira Soares. Equipe de vídeo: Atom Filmes – Câmera e finalização: Francine Tomo; Direção de vídeo: Filipe da Gama. Direção de produção: Adriana Belic. Assistência de direção produção: Mili Slikta. Produção executiva: Arthur Maia. Núcleo Artístico: Sambecktt Arte.Cultura. Fotografia: Dani Sandrini. Social media: Platea Comunicação. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Gestão de produção e agenciamento: Belic Arte Cultura.
Espetáculo: A Vida das Bonecas Vivas
23 e 24 de agosto – Quarta e quinta, às 20h
Ingressos: Grátis – Reservas pelo site https://www.sesisp.org.br/eventos
Duração: 80 min. Classificação: 14 anos. Gênero: Dança-teatro.
SESI São José dos Campos
Av. Cidade Jardim, 4389 – Bosque dos Eucaliptos. São José dos Campos/SP.
Tel.: (12) 3919-2000. Local: Teatro. Capacidade: 4850 lugares.
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