Saúde

A Odontologia de hoje diante da era do Antes e Depois

Dr. Gustavo Belligoli avalia a odontologia de hoje diante do antes e do depois

Venho através deste espaço, falar um pouco de uma das diversas mudanças de comportamento que venho percebendo em muitos pacientes no dia a dia do Consultório. É impressionante como as pessoas chegam cada vez mais informadas e nutridas de informações para o ato da primeira consulta.

Mas esse fato que deveria ser considerado bom, tem também um lado negativo. Por dois motivos principais. A informação adquirida nem sempre é verdadeira ou então é incompleta. E infelizmente, há consequências que podem gerar prejuízos ao paciente. Tanto financeiros, quanto físicos, estéticos e funcionais.

Após apresentar ao leitor uma prévia do assunto a ser discutido, entro na discussão propriamente dita e título deste artigo. Quando falo da Odontologia na era do antes e depois e a relaciono à informações que são usadas pelo paciente de diversas formas, como por exemplo critério de decisão de fazer ou não um
tratamento.

Ou até mesmo com quem fazer, vejo um cenário preocupante. Acredito que o descrito possa talvez ser considerado um imediatismo, ou ansiedade ou até mesmo falta de informação. Falta de informação no sentido em que vivemos um momento que somos bombardeados com tantas informações de
tantos assuntos, que leva a um paradoxo de saber pouquíssimo de muitíssimas coisas.

Nessa hora, a era do antes e depois pode ser desastrosa. Hoje com o Instagram, Facebook, Whatsapp, enfim redes sociais em geral, nos enchem de resultados de trabalhos de diversos profissionais e de diversas áreas.

E quando digo que pode ser desastroso, volto ao que já mencionei. Pouca informação de muita coisa. E quando se analisa apenas uma foto ou um vídeo de 15 segundos de um resultado, falta muita informação. Tipo, como foi o pós conclusão do tratamento? Quanto tempo durou? Qual a expectativa de tempo desse tratamento durar? É um tratamento que tem validade e demanda retoques? Ou é definitivo? Ficou bonito, mas está funcional? São muitas as perguntas que poderíamos aqui listar. Enfim, o objetivo aqui é dizer que o por trás de apenas um antes e depois bonito, é muito maior. E gosto da palavra ”bastidores” para me referir ao exposto.

Os “bastidores da odontologia”. Costumo dizer aos meus pacientes que se eu tivesse que escolher entre um trabalho nem tanto estético, mas funcional e com muitos anos funcionando bem e outro maravilhoso, de baixa durabilidade e pouco funcional, prefiro a primeira opção. Mas o ideal mesmo é não ter que escolher e sim conciliar.

E eu aqui na prática do meu dia a dia, tenho como sendo essa minha meta maior, conciliar essas duas situações: sorriso maravilhoso e com grande longevidade.

Sendo assim, chamo a atenção do paciente para a busca da informação por completo e também da informação verdadeira e que seja interpretada dentro de um contexto. E ser interpretada dentro de um contexto, pode fazer toda a diferença.

Um exemplo básico seria a indicação de extração de um dente. Talvez um mesmo elemento dental que eu indicaria a um paciente de 65 anos extrair e por implante para substituir, em um paciente de 30 anos, provavelmente seria manter e tratar.

Ou seja, para cada paciente deve ser analisado e criado um planejamento personalizado. Aquele antes e depois postado no Instagram deve ser sempre analisado cautelosamente. Pois aquelas fotos não mostram idade, sexo, dados clínicos, histórico, etc, etc. Acho interessante ter esse espaço para expor todo esse conteúdo, pois a minha motivação de escrever veio de uma pergunta feita por uma paciente
antiga.

E que está mudando de cidade e me pediu orientação de como proceder para a escolha do novo dentista. Na verdade ela chegou com o celular no Instagram me mostrando vários dentistas e me apontou o que passou para ela maior confiança se baseando única e exclusivamente nos antes e depois.

E ao me questionar se eu concordava, respondi em tom de brincadeira: acho que pelo menos um bom fotógrafo ele é… E aí falei dos bastidores da odontologia. E nessa hora entram inúmeros fatores. Como qualidade do material usado, equipamentos, laboratório, marca e modelo de implante, ou do aparelho
ortodôntico… e por aí vai!

Sei que para o paciente é quase impossível ter acesso a informações do que eu chamo de bastidores. Então, como proceder? Realmente é difícil essa orientação. Quando eu sou o paciente, quando vou em um médico por exemplo, gosto de saber da formação desse profissional. Onde formou, se é especialista, onde foi feito sua especialização, se tem mestrado, se é uma pessoa que está constantemente se atualizando.

E gosto muito de vídeos maiores postados, com explicações baseadas em artigos científicos. E apenas pelo antes e depois, não sou convencido.

E no caso dessa paciente, olhando o Instagram de um dos profissionais, vi muitas postagens referente à cursos que ele participava.

Me pareceu ser uma pessoa altamente atualizada. Muitos vídeos com conteúdos relevantes. E nessa hora mostrei a ela que eu me preocupava mais com a formação desse profissional, com a bagagem que o mesmo tinha para usar no dia a dia do que propriamente os antes e depois. Inclusive, já na minha casa, olhei com mais cuidado o Instagram que ela mais havia gostado e até assustei. Pois consegui “pescar” algumas informações dos bastidores e fiquei impressionado.

O profissional usava um adesivo para cimentar lentes de contato dentais, que não garantem nenhuma longevidade. Na hora dei uma olhada no site de uma empresa que vende materiais para dentistas para de curiosidade saber o preço. Era coisa de cinquenta e poucos reais.

Só para vocês terem noção, o que usamos aqui no nosso dia a dia, custa mais de oitocentos. Deu mais ou menos para ver também o equipamento usado para o cimento “endurecer”, chamado Fotopolimerizador. E me pareceu um daqueles “chinesinhos” de baixa qualidade e baixo preço.

Enfim caro leitor, meu objetivo aqui não é criar um pânico, ou desconforto perante o profissional escolhido para cuidar da sua saúde.

Ou até mesmo para que mude, caso não consiga ter informações que orientei como importantes. Mas sim tirar um pouquinho do foco que existe no antes e depois como principal, e muitas vezes único critério para escolha de um profissional.

E mostrar que uma boa pesquisa, não apenas dos resultados, mas de resultados associados aos bastidores e formação acadêmica profissional, certamente será o melhor caminho. E apesar de no meu caso, gostar de documentar muito meus trabalhos no meu Instragram @drgustavobelligoli, deixo uma grande dica: nem todo bom profissional posta os seus resultados.

***O texto acima é de inteira responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal S4.

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